style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Este artigo é dedicado à memória do economista Cirilo Costabeber, que estaria fazendo 100 anos em abril de 2020, que ensinou às antigas gerações de economistas a história das doutrinas econômicas.
Não canso de repetir o mantra de que economia nada mais é do que um modo de pensar, que, para qualquer um que o possua, aparece como simples senso comum. Só nos damos conta de sua importância quando começamos a discutir com alguém que não tenha o mesmo treinamento do pensamento. Neste caso, parece que não estamos falando a mesma língua. Até inventaram uma palavra representativa para isso: "economês".
Essa visão leva à vulgarização da economia, como se a dificuldade no seu entendimento fosse apenas uma questão de retórica. Isso não é verdade. É certo que economia sempre foi considerado assunto difícil. Tanto que já foi definida por um historiador, nos seus primórdios, como "ciência lúgubre" - fama que carrega até hoje. Mas daí a achar a economia algo impenetrável para os mortais comuns vai uma grande distância.
A economia é uma espécie de ramo da lógica: depois que aprendemos alguns conceitos básicos, todo o resto se desenvolve logicamente. Eis aí a beleza da economia à espera daqueles que se aventurarem na sua descoberta! O economista é um "pássaro raro", escreveu Keynes, pois deve alçar voo em várias direções - matemático, historiador, filósofo - entender de símbolos e falar com palavras. Contemplar o particular sem perder de vista o geral e tocar o abstrato e o concreto na mesma revoada do pensamento.
Certamente, esses atributos não são fáceis de encontrar num único indivíduo. Daí, talvez, resida a dificuldade de explicar para aqueles que pretendam seguir a carreira o que realmente faz um economista. O fato é que a economia está presente no dia a dia das pessoas e não tem como ignorá-la. Preste atenção, por exemplo, na resposta do ministro da Economia à pergunta se o governo poderia emitir moeda para cobrir gastos.
"Se cair numa situação que a inflação vai praticamente para zero, os juros colapsam, e existe o que a gente chama da armadilha da liquidez, o Banco Central pode sim emitir moeda e pode sim comprar dívida interna", disse Guedes.
Como se comportar diante dessa declaração? Suponho que, para os não economistas, ela parece um tanto intimidatória. Melhor ignorá-la ou decifrá-la? Vamos seguir o segundo caminho.
O mais difícil de entender é a expressão "armadilha da liquidez". Trata-se de uma hipótese do próprio Keynes, de uma situação limite, em que a taxa de juros é muito baixa e, por isso, o público prefere reter moeda ao invés de comprar títulos públicos. Este é o chamado motivo "especulação".
É pouco provável que Guedes, formado em Chicago, templo do monetarismo, esteja pensando em emitir moeda. Os monetaristas acham que toda inflação é causada pelo aumento da quantidade de moeda na economia (excesso de demanda). Mas, como a inflação está próxima de zero, não afastou essa possibilidade. Não seria a casa da moeda emitindo dinheiro, como se imagina. Seria uma operação contábil, com o Banco Central comprando títulos do Tesouro.
Com esses recursos no caixa, o governo pode cobrir parte da despesa da pandemia, o chamado "orçamento de guerra". Ou então recomprar títulos públicos para diminuir o tamanho da dívida interna (credores no país), que deve superar a casa de 90% do PIB no final de 2020. Este, inclusive, pode ser usado como um exemplo do conceito (de Robbins) de neutralidade da economia em relação aos fins. No caso, o seu objeto seria a preocupação com a escassez dos meios para alcançar os fins.